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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DÉLIAS : JOGOS DE EXERCÍCIOS NO SANTUÁRIO DE APOLO..

     Delos era a menor das ilhas cíclades, com 3 km2  e ao mesmo tempo a mais famosa e a mais sagrada.
     Significa "Aquela que aparece", sendo considerada ponto central desse arquipélago, com as demais ilhas ao seu redor, no sul do mar Egeu.
      Ciclade no grego antigo significa "circular", compondo um grupo totalizado de mais de 200 ilhas, entre elas: Amorgos, Anafi, Andros, Antíparos, Ceos, Donoussa, Folegandros, Los, Irakleia, Kimolos, Koufonissi, Kythnos, Milos, Miconos, Naxos, Paros, Santorini, Schoinoussa, Sérifo, Sifnos, Sikinos, Siro, Therasia, Tinos, etc. Este arquipélago compõe uma área de 2572 km2.
     A ilha de Delos é facilmente acessível através da ilha de Mykonos.
     Sítios arqueológicos pertencentes à civilização minóica e mais tarde, de Micenas, foram escavados ali, especialemte nas ilhas de Melos e Tera. Delos provavelmente sempre foi o foco religioso da região.
     Os jônios, povos indo-europeus, ocuparam esta ilha por volta do ano 2000 a.C., e implantaram nesta região o culto de Leto, ou seja, do deus Olímpico Apolo e de seus filhos divinizados. Foram construídos nesta ilha um teatro, que comportava cerca de 5 mil pessoas; um lago sagrado de Apolo, sendo construído o "Terraço dos Leões", composto por nove(9) esculturas de leões em mármore, que guardavam e protegiam este lago, onde, segundo a tradição grega, Apolo teria nascido. Foi erguido também um santuário ao deus Dionísio, deus do vinho e do teatro, datado do ano 300 a.C.
     Os jônios edificaram no monte Kynthos um santuário a divindade do Olimpo Apolo. Este monte tinha uma posição privilegiada que visualizava  as direções de todas as ilhas ao redor. Foram instituídos sacerdotes e profetas que adivinhavam em nome deste deus e durante séculos, diversos guerreiros e generais se dirigiram até esta ilha para consultar o oráculo sagrado de Apolo, um dos mais importantes de todas a Grécia, concorrendo com o de Dodona e o de Delfos.
     Segundo a cultura grega, a terra e não o céu, foi a morada da maioria das divindades gregas. Cerca de mil deidades menores habitavam a terra, as águas e o espaço. Espíritos de árvores sagradas, especialmente o carvalho, nereidas, naíades, etc. O ritual grego era tão variado quanto aos deuses por ele honrado.
     Os deuses ctônicos(grego "Khthon"= terra) eram identificados ao submundo, ligados a terra ou interior do solo. Geralmente relacionados à fertilidade  da terra. Se distinguiam das deidades Olímpicas pela maneira como eram cultuadas. Os sacrifícios dos deuses ctônicos(Caronte, Tártaro, Hades, Moiras, Cronos, Érebo, Persífone, Cloto, Laquesis, etc) eram feitos à noite e os animais imolados eram colocados em covas. As suas oferendas de carne, em geral,  eram queimadas ou enterradas. Os sacrifícios da deusa ctônica Hécate realizavam-se nas encruzilhadas.
     Já os 12 deuses Olímpicos(Zeus, Heracles, Apolo, Posseidon, Atena, Hera, Afrodite, etc), recebiam seus sacrifícios de animais durante o dia e em altares e as suas carnes eram assadas e compartilhadas entre seus adoradores. Os deuses Olímpicos também eram reverenciados com alegres rituais de acolhida e louvores, através dos mais variados jogos de competição. Foram idealizados diversos torneios como forma de manter as divindades felizes, o que traria prosperidade e êxitos no futuro.
     Os jônios, primeiros habitantes desta ilha, celebravam periodicamente um festival esportivo em honra de Apolo, denominado "Délias". Para realização destes torneios, foi construído um ginásio, que a princípio  era composto de uma pista para corridas à pé e um espaço para as lutas corporais e pugilismo. Com o passar dos anos, foi aperfeiçoado com a criação da "Palestra": local privado com dimensão limitada, de forma quadrada ou retangular, específico para prática de exercícios em geral e treinamento para as lutas corporais e pugilatos.  Este ginásio ficava próximo ao mar.
     O complexo do ginásio consistia basicamente nos seguintes espaços: 1) "Efebeum"-local destinado aos exercícios; 2) "Coryceum"-local onde se guardavam os sacos de couro utilizados para a prática do pugilismo; 3) "Conisterium"-local onde os lutadores se reuniam depois das lutas para se limparem do óleo utilizado em seus corpos nas pelejas; 4) "Frigida lavatio"- tanque d'água, onde os atletas se refrescavam depois das atividades competitivas(banhos públicos); 5) "Elaethesium"- local onde se guardavam os óleos corporais. O ginásio possuía também estátuas de deuses que ornamentavam o local, principalmente Hermes(deus da velocidade) e Heracles(ou Hércules, em latim), deus da força física ; vestuário, acomodações para os espectadores, recintos para massagens e unção com óleos.
     Apolo, na cultura grega, era a representação do astro luminoso sol e de todos os seus atributos, era cultuado como deus da luz, o mais importante para a antiga Grécia, e sem dúvida tido como profeta. Nessa condição, esta divindade mobilizou para todos os seus templos, todas as camadas sociais dos antigos gregos. Por intermédio de seus sacerdotes, ele respondia às perguntas dos chefes militares, navegantes, soberanos, pessoas do povo que ansiosamente procuravam desvendar o futuro e conhecer as probabilidades de êxito nos negócios, nas guerras, nas viagens e nos amores.
     Agamenon erguia-lhe preces e os espartanos sacrificavam-lhe cavalos, para que Apolo se retirasse do céu em sua carruagem flamejante. Os Ródios, habitantes da ilha de Rodes,  honravam hélios(sol) como Apolo, sendo sua principal divindade, arremessando, anualmente, quatro cavalos e uma carruagem(biga) ao mar, para o seu uso e ergueram em sua homenagem o Colosso de Rodes. O filósofo grego Anaxágoras(500-428 a.C.), protegido por Péricles, que era seu discípulo, por ser também astrônomo, em 455 a.C., teorizou que a lua não passava de um pedaço da Terra que se desprendeu, porém  seus contemporâneos atenienses não lhe deram crédito por achar que a lua era uma deusa e quase foi condenado à morte por ter dito que também o sol não era um deus, mas apenas uma bola de fogo.
     Para esculpirem a estátua de Apolo, os artistas gregos reuniam os mais belos jovens e selecionavam de cada um deles, sua parte mais perfeita. Assim conseguiram os traços para representarem o deus: a soma do que havia de mais belo na pessoa humana. Estudavam cuidadosamente as proporções do contorno do rosto com seus membros. Tudo medido, calculado, de forma a aproximar-se daquilo que consideravam a perfeição. Essa representação do divino, segundo modelos humanos constituía a realidade para o mundo grego. Os deuses das civilizações anteriores à grega, não tinham aparência humana, pois procuravam apresentar a superioridade do divino sobre a raça humana. Como no Egito e na Mesopotâmia, muitas divindades eram representadas tendo parte humana e parte animal.
     Os gregos só podiam entender o invisível pelas coisas visíveis e humanas. Só podiam sentir e demonstrar a beleza a partir do que viam ao seu redor. Observando os famosos atletas nos estádios, nos jogos de  exercícios, o escultor grego tirava deles os traços para compor a perfeição de uma estátua do deus. Desde as esculturas mais primitivas, em madeira, bronze ou mármore, Apolo é geralmente representado nu ou às vezes com um leve manto.
     Perante o santuário de Apolo em Delos, os atletas prestavam o juramento de seguirem as regras impostas, enquanto eram entoados hinos em homenagem a divindade. Como em todos os jogos regionais e nacionais da Grécia, uma chama era acesa ao patrono dos torneios e sacrifícios de animais eram feitos no altar da divindade. Durante a realização dos jogos Délios, cada atleta ofertava seu esforço físico à divindade que, em caso de vitória sobre os demais concorrentes, demonstrava que seu sucesso foi o mais bem aceito pelo deus homenageado nos jogos de exercícios.
     A partir do ano 500 a.C., a cidade de Atenas apoderou-se do domínio desta ilha, trazendo uma época de prosperidade, até a sua independência em 322 a.C.
     Em Delos, foi estabelecida uma confederação de Estados gregos(Liga de Delos), fundada em 478 a.C., mantendo-se até 338 a.C., quando o conquistador Felipe da Macedônia derrotou os atenienses na Batalha de Queronéia. Em 166 a.C., Delos passou para o domínio dos romanos, que restauraram o controle do culto religioso, por parte dos atenienses e permitiram o desenvolvimento da ilha como centro de comércio e venda de escravos. Em 315 a.C., esta ilha caiu no domínio dos egípcios ptolomaicos: uma das quatro monarquias que serviam Alexandre, o Grande.
     No século I d.C., cerca de 30 mil pessoas viviam nessa pequena ilha e em torno de 750 mil toneladas de mercadorias poderaim ser transportadas através do seu porto.
     A prosperidade desta ilha e as relações comerciais com o Império Romano foram a principal causa da sua destruição. Delos foi atacada e saqueada por duas vezes: 1) Em 88 a.C., pelos Mithridates, reino de Pontus(um inimigo dos romanos); 2) Em 69 a.C., pelos piratas de Athenodorus, um aliado de Mithridates. A partir de então, a ilha foi gradualmente sendo abandonada.
     O Imperador Juliano, o Apóstata(331-363 d.C.), foi provavelmente o último soberano romano a consultar o oráculo do deus Apolo no monte Kynthos, em Delos, devido a recusa do atendimento no oráculo de Delfos.
     Devido a expansão do evangelho de Cristo, as Délias foram proibidas pelo edito do Imperador Teodósio I, o Grande, em 393 d.C. Hoje esta ilha está abandonada.
                                                       
                                        Bibliografia.
    "A História da civilização II-Nossa Herança Clássica-Will Durant
     "Sítio Arqueológico de Delos-online
      "Wikipédia-Cíclades"
       "Relíquias/Cíclades-As ilhas da Mitologia-online"
        "Delos-infopédia-online"
        "A ilha de Delos e o Santuário de Apolo"-online"
        "Apolo-mitologia-online".