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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

TARGÉLIAS: JOGOS EXPIATÓRIOS DE ATENAS.

     Jogos expiatórios oferecidos ao deus Apolo e a deusa Artêmis,  em troca do recebimento do perdão das culpas praticadas pelo povo de Atenas e Jônia.
     O termo vem do grego "Thargéllon".
     Eram realizados nas cidades de Atenas e Jônia.
     Thargélion é o nome de um mês do calendário ateniense que corresponde aproximadamente ao mês de maio. Durante este mês eram praticados nestas cidades, as Targélias, festas em honra do irmão da deusa Artêmis, o deus Apolo, a quem se oferecia uma espécie de cereal, em que se fazia uma sopa, chanado targelos.
     Outras cidades da linhagem jônica tinha este mês em seus calendários, como Éfeso, que celebrava o mês do nascimento de Artêmis.
     Os gregos originaram-se de povos indo-europeus que migraram para a Península Balcânica em diversos períodos, no início do milênio II a.C. : Aqueus(2000-1200 a.C.), Eólios(1700 a.C.), Jônios(1700 a.C.), Dóricos(1200 a.C.). As populações invasoras são em geral conhecidas como "helênicas", pois sua organização em clãs fundamentava-se na crença de que descendiam do herói Heleno, filho de Deucalião e Pirra.
     Os antigos gregos autodenominavam-se "helenos" e a seu país chamavam Hélade, nunca se referindo a si mesmos com a palavra "gregos", nem a sua civilização de Grécia, pois estas palavras são latinas, tendo sido-lhes atribuídas pelos romanos. A Grécia antiga é termo geralmente usado para descrever o mundo grego e áreas próximas(como Chipre, Anatólia, sul da Itália, sul da França e costa do mar Egeu, além de assentamentos gregos no litoral de outros países, como o Egito).
     Os Aqueus, povos guerreiros, seminômades, conquistaram completamente os habitantes autóctones(oriundos da terra natal), os pelágios(povos marítimos), em busca de terras férteis para suas plantações.
     O historiador Wuilliam Ridgway descobriu diferenças entre a civilização Pelágia(povo marítimo) e a civilização Aquéia. Os Pelágios não conheceram o ferro, enquanto que os Aqueus sim. Os Pelágios enterravam seus mortos, ao passo que os Aqueus os queimavam. Os pelágios oravam olhando para o chão, por acreditarem que os deuses estivessem no interior da terra, porém os Aqueus oravam olhando para cima, por acreditarem que os deuses moravam no alto do monte Olimpo ou entre as nuvens. Disso tudo, Ridgway concluiu que os Aqueus não eram realmente uma população Pelágia(marítima), como as outras da Grécia, mas uma tribo céltica(povo indo-germânico) da Europa central que viera para o Peloponeso(Grécia do sul) não "da Tessália" e sim "através da Tessália". Subjugou os povos locais e, entre os séculos XIV e XIII a.C., com eles se fundiu, a ponto de criar uma nova civilização,  uma nova língua, a grega, permanecendo sempre classe dirigente.
     Os Aqueus, ao contrário dos Pelágios, foram um povo terrestre. Tanto assim que até a guerra de Troia nunca se tinham aventurado em conquistas marítimas e toda a vez que encontravam o mar, paravam. Não tentavam sequer conquistar as ilhas mais próximas do continente. Todas as suas capitais e cidadelas ficavam no interior. A Grécia, sob o domínio deles, limitava-se ao Peloponeso, à Ática e a Beócia. Mas para as populações pelágias da civilização miceniana, que era dada ao mar, a Grécia englobava todos os arquipélagos do mar Egeu.
     A cidade de Atenas foi fundada pelos Jônios, povo indo-europeu que se estabeleceu na Ática e no Peloponeso, indo mais tarde para a Ásia Menor, devida a chegada dos Dórios.
     Atenas resultou numa lenta mistura de povos pré-helênicos, realmente autóctones, vindos principalmente da Jônia, sem ocorrências de conflitos ou conquistas violentas. Sua posição geográfica deixou esta cidade livre as correntes invasoras Dóricas e Aquéias. Mais tarde, sua população sofreu novamente influência externa pela chegada gradual de estrangeiros, atraídos pela prosperidade comercial da cidade.
     No mundo antigo, a Grécia era a terra de Javã(Gênesis 10:4-5), neto do patriarca Noé e pai dos Jônios, uma das principais tribos da raça grega.
     Nas ilhas do Mar Egeu e em Creta, o espírito atlético surgiu por volta de 1500 a.C. Dentre os jogos praticados, destacavam-se: pugilismo, luta corporal, corridas a pé, hipismo, etc. Em Micenas, o atletismo teve grande difusão, desenvolvendo-se variadas manifestações esportivas por ocasião das festas religiosas dedicadas a um determinado deus. Os Micênios criaram novos jogos, como a corrida à pé e a corrida de carruagens(bigas). É na Era pré-homérica(2000-1200 a.C.) e pós-homérica, que o esporte se instalou nos hábitos cotidianos dos gregos. Os exercícios que tinham aplicação militar foram usados para criar provas competitivas no mundo grego. Os primeiros Ginásios(locais para práticas e preparações para os torneios) surgiram em Atenas no século VI a.C. Na maioria das religiões antigas, o mundo terrestre era uma projeção de Cosmos(universo). Assim sendo, os gregos criaram os heróis e deuses mitológicos com características humanas, sendo que o atletismo tornou-se reflexo divino e as competições esportivas como ritos sagrados.
     Em todos os tempos e em todas as sociedades, o homem sempre quis honrar os seus deuses com festas, estabelecendo dias especiais, nos quais o sentimento religioso reinaria sozinho em sua alma, sem distrai-la com pensamentos e ocupações terrenas. No número de dias que deveria viver, estabeleceu a parte que caberia as divindades. Cada cidade havia sido fundada com rituais, que no pensamento dos antigos, tinham por efeito fixar dentro de seus limites os deuses nacionais. Era necessário que a virtude destas cerimônias fosse rejuvenescida todos os anos por novo ritual religioso. Chamavam a essa festa dia natalício. Todos os cidadãos deveriam celebrá-la.
     Na Grécia como na Itália, cada ato de vida do agricultor era acompanhado de sacrifícios e os trabalhos eram executados enquanto se recitavam hinos religiosos. O que caracteriza as festas religiosas era a proibição do trabalho. Era obrigação estar alegre, entoar cânticos e participar dos jogos públicos.
     Os gregos antigos consideravam que eram os deuses quem decidiam a quem obteriam a vitória. O triunfo era frequentemente representado por uma mulher alada(com asas) caracterizada como "Nike", que significava "vitória" em grego, como servente ou mensageira dos deuses. "Nike" voava para a pessoa escolhida, entregando-a uma recompensa divina em forma de uma coroa ou fita. A fama dos atletas vencedores trazia reflexos de glória para todos os habitantes de sua cidade natal. No seu retorno dos jogos, recebiam uma recepção de herói, ganhando numerosos benefícios para o resto de sua vida. Por estarem orgulhosos, seus concidadãos, algumas vezes, faziam moedas com imagem do atleta para não esquecê-lo, tornando-os conhecidos de todo o mundo grego.
     Os jogos Targélios, como os jogos Teoxênias, em Delfos, e os jogos píticos, também em Delfos, eram dedicados ao deus Apolo. As Targélias eram torneios regionais, sendo inferiores aos Jogos Olímpicos, que eram festas nacionais, cobiçadas por todo o mundo grego.
     As competições esportivas ocorriam nas seguintes dependências: 1) Estádio: corridas a pé, corridas de bigas e corridas de cavalos, lançamento do dardo e disco, salto à distância: 2) Ginásio: pugilismo, luta livre: 3) Teatro: concursos de poesias, canto, música(cítara e flauta); dança de meninos em roda de um altar comemorando a vitória do deus Apolo sobre a serpente Píton.
     Baseado no estádio de Olímpia, que tinha o formato da letra "U", possuindo a medida de 211 por 23 metros. A corrida ou dromo era disputada num percurso de 192,27 metros, distância que os gregos diziam equivaler a 600 pés de Hércules, herói mitológico, cujas façanhas, segundo a tradição, estariam ligadas à própria origem dos jogos. Todavia, "um pé" não tinha a mesma dimensão em todos os lugares da Grécia, já que cada cidade tinha o seu próprio sistema de medição. Um pé, por exemplo, equivalia a 31,045 cm em Olímpia e em Delfos somente 29,6 cm. Assim, a pista de 600 pés tinha 192,27 metros em Olímpia; 184,96 metros em Atenas; 181,30 metros em Epidauro(cidade fundada pelos jônios, situada na Argólia, às margens do mar Egeu) e 177,60 metros em Delfos(Grécia central).
     As corridas à pé nos estádios estavam subdivididas da seguinte forma: 1) Dromo ou estádio- pouco mais de 200 metros; 2) Diaulo- cerca de 400 metros(2 vezes a distância do dromo); 3) Dólico- pouco mais de 4,5 mil metros; 4) corrida hípica- cerca de 800 metros; 5) corrida armada.
     Os atletas concentravam-se num determinado local e através de um toque de trombeta, sinalizava o início da disputa. Nos saltos, era permitido ao atleta impulsionar o corpo, desde que seus pés não ultrapassassem uma linha-limite riscada no solo. O vencedor era o que atingisse a maior distância, na soma de três(3) saltos. O atleta usava pesos. Com os pés juntos e sem correr, o atleta saltava, arremessando os seus braços para frente. No ar, os braços e as pernas estavam quase paralelos. Antes de aterrisar, o atleta balançava seus braços para trás, jogando os pesos ao mesmo tempo. O movimento lançava suas pernas para frente e estendia a distância do salto. O uso de pesos significava que os movimentos dos atletas tinham que ser coordenados. Músicas de flautas acompanhavam o evento a fim de auxiliar o respeito aos participantes. Os pesos eram feitos de pedras ou de metais e tinham formas variadas.
     Os discos lançados a distância pelos competidores eram feitos de bronze. Era grosso ao centro, fino em volta, medindo de 20 a 36 cm, pesando 5 kg. Os dardos possuiam aproximadamente 1,80 metros de comprimento, tendo uma extremidade de ferro pontiaguda que possibilitava ao atleta, com o lançamento, fincá-lo no solo. Sua propulsão fazia-se com auxílio de uma correia de 40 cm, enrolada um pouco atrás do centro de gravidade do dardo. Essa correia, acionada com força no momento do arremesso, impunha um movimento rotativo ao dardo, levando-o a grandes distâncias.
     Os primeiros cristãos(século I em diante) não participavam dos jogos, influenciando aos novos convertidos a desprezarem tais práticas, por terem sido criados como oferendas às divindades e por exaltarem ao ser humano, privilégio devido só ao Deus Eterno, na pessoa do Senhor Jesus Cristo.
     No ano 380 d.C., o Imperador Teodósio I, o Grande, contraiu uma grave enfermidade na cidade de Tessalônica(Grécia do norte) e graças as orações dos cristãos foi curado da mesma. Como gratidão, converteu-se ao evangelho e foi batizado, passando a pertencer a igreja cristã.
     No ano 390 d.C., Teodósio baixou um decreto em todo o império romano, tornando o homossexualismo ato condenável e proibido. A guarnição de Tessalônica era comandada pelo general Botarico, homem de confiança do imperador, governando esta metrópole. Um determinado cocheiro(condutor de carruagem) do Circo(hipódromo), preferido nas corridas de bigas, amado pelo povo, por concedê-los euforias e regozijos nos jogos públicos, manteve relações amorosas com um rapaz escravo, levando o governador Botarico a prendê-lo na cadeia pública. O povo revoltado com esta atitude, enfureceu-se e assassinou este comandante, juntamente com outros oficiais romanos, arrastando seus cadáveres pelas ruas da cidade. Em Milão, o imperador Teodósio foi informado deste acontecimento e com um ódio violento e sob influência do seu ministro Rufino, arquitetou um plano de vingança. Os Bispos tentaram em vão aplacar à ira do imperador. Como o povo amava imensamente os jogos  realizados no grande Circo da cidade(corridas de bigas e corridas de cavalos), seus oficiais convidaram a massa de Tessalônica, em nome de Teodósio, à exibição extra destes prestigiados jogos públicos. Sem desconfiarem da armadilha tramada, cerca de 15 mil pessoas, de todos os sexos, idades e condições sociais, lotaram as dependências deste enorme hipódromo. A seguir, uma legião de soldados armados com espadas desembanhadas , invadiu o local de diversões e durante três(3) horas seguidas, exerceu uma terrível carnificina. No desespero, um influente negociante estrangeiro tentou ainda subornar os capitães responsáveis pela matança, a fim de livrarem os seus dois(2) filhos que se encontravam no recinto dos torneios, porém ambos foram degolados à sua vista.
     Ambrósio, Bispo de Milão, ficou horrorizado com a notícia desta matança, e, para extravazar a sua dor, bem como para evitar a presença de Teodósio, retirou-se ao campo. Depois escreveu cartas de repúdio ao imperador , exortando-o ao arrependimento, advertindo-o que não tivesse a ousadia de se aproximar do altar de Deus, com as mãos respingadas de sangue inocente. Teodósio, em consequência dessas repreensões, reparou a sua imprudência, e, como não podia remediar o mal que tinha feito, dirigiu-se, com arrependimento, à  igreja de Milão. Ao chegar, o imperador retirou as insignas do poder, apresentou-se como suplicante no meio da igreja, confessou-se como culpado deste crime contra os tessalônicos, recebendo oito(8) meses de suspensão do meio dos fiéis, sem participar da ceia do Senhor. Com este ocorrido, Teodósio decretou que qualquer acontecimento grave no império, deveria durar cerca de 30 dias, entre a sentença dos juízes e a sua execução.
     Como os cristãos não participavam da euforia dos jogos de competições, o Bispo Ambrósio(Milão), um dos 'Pais da Igreja', advertiu novamente ao imperador por gostar dos jogos do Circo, torcendo pelo melhor cocheiro, que conduzia bem a sua carruagem de corrida ou o melhor jóquei, que conduzia o cavalo mais rápido nas pistas de corridas, a afastar-se destes prazeres peculiares aos pagãos. Após esta exortação, Teodósio afastou-se inteiramente da torcida nos jogos e multiplicou a prática dos jejuns, para ajudar contra a intemperança(obras da carne). (Gálatas 5:22).
     Em 393 d.C., o Bispo Ambrósio consumou o golpe mortal nos esportes, solicitando ao imperador a extinção dos mesmos em todo o império romano, o que incluía também os jogos atenienses(Targélias, Panatenéias), jogos olimpicos e jogos romanos.
                                   
                                        Bibliografia.
                       História Universal-César Cantu-volume 08-São Paulo-Editora das Américas.
                       A Cidade Antiga-Fustel de Coulanges-São Paulo-Volume 01
                       História Antiga e Medieval-Editora Scipiona-de Leonel Itausu A.Mello e Luís César Amad Costa.
                      No País dos deuses, os Gregos-1991-Sophie Descamps Lequime e Denise Vernery-Editora Augustus.
                      Historia dos Gregos-De Indro Montenalli-2ª edição-1968
                      Enciclopédia Mirador(Atletismo)-volume: 03-1990- São Paulo
                      Teodósio I- wikipédia
                      Jônios-Wikipédia.