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segunda-feira, 11 de março de 2013

TEATRO: JOGOS CENICOS-II PARTE.

     O teatro e uma das expressoes mais antigas do espirito brincalhao da humanidade. Nele, os atores espressavam e desempenhavam, temporariamente, o papel de outra pessoa, passando a viver um determinado personagem, fantasiando-se e falando a maneira dele. Esse personagem pode ser um deus, o que explica a origem de determinadas representaçoes em atos religiosos. Mas tambem pode ser o proximo, que se deseja ridicularizar: este e uma das raizes dos jogos carnavalescos e da comedia, sem que se exclua, tambem para esta, uma origem ritualistica. Os teatros de marionetes e silhuetas, pertencentes aos jogos cenicos, tambem serviam para distrair o povo.
     O Apostolo Paulo pregou em Efeso durante dois(2) anos(53-55 d.C.), no periodo de sua terceira viagem missionaria. Deus fez maravilhas atraves dele: batizou com o Espirito Santo, expulsou demonios, curou os enfermos; muitos foram levados a conversao ao evangelho de Jesus Cristo, abandonando os idolos e o espiritismo. Todavia, Demetrio, fabricante de pequenos templos de prata com a imagem da deusa Diana(divindade que representava a lua, simbolo da castidade e pureza virginal), vendo que o prestigio do idolo seria comprometido, reuniu todos os fabricantes e operarios de edificaçoes semelhantes, criou uma enorme contenda em Efeso. Paulo desejava entrar no teatro para pregar o evangelho, porem foi impedido pelos presidentes das assembleias publicas, para nao desencadear uma perseguiçao contra os cristaos. As ruinas deste imenso teatro tem 66 carreiras de assentos com lugares para 24 mil e 500 ouvintes. Media 140 metros de diametro: "E, ouvindo-o, encheram-se de ira e clamaram, dizendo: grande e a Diana dos efesios. E encheu-se de confusao toda a cidade e unanimes correram ao teatro, arrebatando(arrastando) a Gaio e Aristarco, macedonios, companheiros de Paulo na viagem. E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, nao lho permitiram os discipulos. E tambem alguns principais da Asia, que eram seus amigos, lhe rogaram que nao se apresentassem no teatro".(Atos 19:28-31).
     As representaçoes teatrais nos tempos da Republica(509-27 a.C.), em Roma, se realizavam em palcos de madeira armados em recinto aberto, permanecendo os espectadores de pe ou sentados na relva. A partir do seculo II começaram a ser construidos teatros de madeira que se desarmavam apos as representaçoes. Um dos teatros romanos mais conservados encontra-se em Orange(oeste da Italia) e data so seculo II d.C. Tinha capacidade para 40 mil espectadores. "Se o teatro moderno, no que se refere a sua forma exterior, se deriva do romano, as formas regulares do teatro romano se deriva do grego".
     No teatro romano, os acessorios sao mais aperfeiçoados que no teatro grego: existe uma cortina de cena; os trajes sao suntuosos, muitas vezes em excesso. Os atores e dançarinos eram geralmente escravos ou libertos e sua profissao era desonrosa(infamante), considerada assim ate a epoca imperial, como por exemplo os 'mimos'(peças comicas, extremamente imorais).
     A primeira vez que se realizou em Roma uma representaçao do tipo teatral, ou seja, diante de um muro chamado "scaena", foi em 369 a.C. Uma grande peste atinge a cidade . Os sacerdotes realizam o 'piaculum'(meio instrumento), isto e, um sacrificio expiatorio para aplacar a ira dos deuses. Como tal atitude nao se revelou eficaz, recorreram aos etruscos que foram a Roma e realizaram diante diante de 'scaena'(muro), espetaculos pantomimicos(arte de se expressar por meio de gestos ou mimicas), de natureza ludica(comica) e espetaculos esportivos. Esses espetaculos etruscos assemelhavam-se aos jogos romanos por sua natureza ludica(divertida) diferentemente dos espetaculos gregos, de natureza agonistica(ciencia dos combates em que se aplicavam a ginastica), onde dominava a competiçao. As exibiçoes etruscas eram realizadas por profissionais, unicamente para o prazer do publico. As danças de pantomina(mimica) tem o mesmo efeito que os espetaculos nos Circos e integravam um ritual ludico-religioso.
     O palco italico(scaena), de influencia etrusca, consistia numa fachada sobre a qual se prendia uma decoraçao com finalidades ilusorias. Ela marcava a dimensao do "nao real". Atraves dela, por uma porta central, entravam os atores-dançarinos, como se surgissem de um mundo irreal.
     O nascimento do teatro em Roma, e portanto, marcado pelo "ludus"(divertimento), pelo lusus, ilusorio.
     O teatro latino vem sempre marcado pelo ludismo. Entre os gregos, o teatro era uma competiçao, haja visto que as tragedias eram sempre representadas em meio a concursos. Um concurso grego poe em confronto artistas e dramaturgos, cada um tentando ser melhor do que o outro, diante de um publico que e o juiz. Tambem os jogos gregos faziam os esportistas encararem o concorrente como um inimigo, a quem queriam vencer. Em Roma, as exibiçoes entre cocheiros, joqueis, pugilistas, gladiadores e artistas almejavam nao apenas o prestigio pessoal, mas principalmente a recompensa financeira.
     Algumas datas marcaram historicamente o teatro latino. Em 364 a.C., abria-se o periodo de um teatro sem texto com a criaçao dos jogos cenicos: discurso onde alguns personagens estao parados, mas dialogando, entao o jogo cenico(divertimento de cena) começa por causa da voz dada aos personagens em açao. O teatro com texto ganha seu lugar com a instituiçao dos jogos gregos, em 240 a.C. E neste contexto que se podem localizar as obras de  Plauto, Terencio e mais tarde, Seneca, entre outros poetas dramaticos. Todavia, em 27 a.C., o texto deixa de lado  seu carater literario e passa a servir apenas de suporte a uma apresentaçao pantomimica.
     O substantivo comum para designar o ator romano era "ludius", ou seja, um dançarino e mimico ao mesmo tempo. Ao lado dele, tomavam lugar no palco o flautista e o cantor, porem ele era o centro do interesse da plateia, pois e quem garante o espetaculo. Por ocasiao dos jogos cenicos, eram aplaudidos, idolatrados e dotados de glorias, pois desencadeavam paixoes e, muitos dos atores recebiam favores, inclusive amorosos, de homens ilustres da Republica. O filosofo e escritor romano, Cicero(106-43 a.C.), cita o ator Roscius, como um desses gloriosos que "tinha conquistado tao grande afeto de todos nos como a mera expressao corporal".
     Para alcançar tal gloria e exercer o fascinio, era necessario que o ator cultivasse a perfeiçao de um corpo de bailarino e adquirisse a  precisao de uma voz de cantor, pois, afinal, ele e o responsavel pelo prazer do publico. O ator comico era o mais valorizado por causa de sua dança. Numa comedia, gastava a metade da cena dançando o seu papel, acompanhado do som da flauta e do escabelo(banco baixo para descanso dos pes). Cada ator especializava-se num papel masculino ou feminino, ja que era proibido as mulheres apresentarem-se no palco. Para isso, cultivavam atributos fundamentais, como a agilidade para o escravo, a graça e a feminilidade para representar a prostituta elegante(cortesa). A voz deveria ser forte o bastante para preencher os espaços dos enormes teatros romanos, mas o principal atributo do ator comico era mesmo o corpo. Ja o ator tragico destacava-se pela declamaçao, mas devia tambem ser capaz de transmitir atraves de codigos gestuais determinados sentimentos de dor, colera, desespero, jubilo, furor.
     Encerrado o periodo dos jogos cenicos, o direito romano condenava os atores a infamia juridica, privando-os dos direitos civicos e politicos, calcando-os as camadas mais inferiores da sociedade. Alem da infamia juridica, a sociedade tambem os dotava de infamia moral, considerando-os seres despreziveis e repugnantes, semelhantes as prostitutas. Isso acontecia porque a sociedade romana desprezava as pessoas que ofereciam seus corpos aos deleites(prazeres) e a satisfaçao dos espectadores.
     Essas representaçoes teatrais, quando realizadas, eram de livre acesso a todos: mulheres, homens, crianças e escravos. O publico apresentava-se exigente: tumultos e vaias eram frequentes. Os atores que desagradavam eram expulsos do palco e ate mesmo esbofeteados. Compreeende-se que o dominio grego tivesse o cuidado de organizar uma boa equipe teatral, que nem sempre era bem sucedida, provocando forte reaçao da assistencia.
     O Apostolo Paulo, inspirado pelo Espirito Santo, no ano 64 d.C., exortou os cristaos da cidade de Efeso, amante das peças teatrais, que fugissem destes costumes greco-romano: "Nem em torpezas(indecencias), nem parvoices(bobagens, tolices), nem chocarrices(zombarias), que nao convem; mas antes(ao inves) açoes de graças".(Efesios 5:4).
     Os 'Pais da Igreja', nos primeiros quatro seculos da trajetoria da igreja primitiva, condenavam as peças teatrais por serem obscenas e sensuais. Os judeus e cristaos se opunham aos metodos usados pelos atores de se vestirem de mulheres, baseados no que diz as Escrituras: "Nao havera trajo de homem na mulher e nao  vestira o homem vestido de mulher: porque, qualquer que faz isto e abominaçao ao Senhor teu Deus".(Deuteronomio 22:5).
     Depois do seculo VI d.C., so se ouvia falar de artistas de teatro sendo proibidos de encenar e pregaçoes de lideres da igreja que se referiam aos atores que "andam de terra em terra espalhando a imoralidade". No ano 528 d.C., o Imperador Justiniano proibi todas as encenaçoes teatrais dos pagaos: "aqueles que sofrem da blasfemia e loucura dos gregos".
     Analisemos o que disseram alguns 'Pais da Igreja':
     Clemente de Alexandria(195 d.C.): "A tal ponto de desenfreio chegou a vida, comprazendo-se na maldade, que a luxuria(os desejos sensuais) estendeu-se pelas cidades, convertendo-se em lei. Sob seus tetos, ha mulheres dispostas a vender sua propria carne para a luxuria do prazer e tambem moços que, amestrados para renegar a sua natureza, fazem-se passar por mulheres".
     Clemente de Alexandria(195 d.C.): " A luxuria transformou tudo. A vaidade afeminada desonra ao homem. Tudo o que procura, tudo o tenta, tudo o violenta, revira a natureza, os homens adquiram o papel passivo de mulheres e as mulheres atuam como homens, sendo possuidas contra natureza ao unir-se com mulheres".
     Clemente de Alexandria(195 d.C.): "Portanto, devem extinguir-se os espetaculos e as audiçoes por estar repletos de charlatanearia(engano). Que açao torpe nao se mostra nos teatros? que desavergonhadas palavras nao pronuncia os comediantes?"
     Tertuliano(197 d.C.): "Que direi? que um comediante infame, representando o papel de Hercules se vista da imagem de seu deus e que o corpo impuro de uma prostituta torpe se vista em lascivo traje da majestade de Minerva e que em presença sua se misturam estes representantes e que vendo voces ultrajada a majestade e a deidade violada, estejam aplaudindo com riso um ato tao profano".
     Tertuliano(197 d.C.): " O pai que proteje com cuidado e guarda os ouvidos de sua filha virgem, depois a leva ao teatro......como pode ser justo ver as coisas que sao injusto fazer? e aquelas coisas que contaminam ao homem quando saem de sua boca, nao lhe contaminarao quando entram por seus olhos e ouvidos?"
     Tertuliano(197 d.C.): "Tudo zelo na busca de gloria e honra morta em nos...entre nos nunca se diz, ve ou escuta nada que tenha algo em comum com a loucura do Circo(hipodromo), a desonestidade do teatro, as atrocidades da arena(anfiteatro) ou o exercicio inutil do campo de luta livre(estadio). Porque se ofendem conosco se discordamos de voces(romanos) quanto aos seus prazeres?"
     Tertuliano(197 d.C.): "........Que tem que ouvir nossos ouvidos nas indecencias(torpezas) do teatro?"
     Marco Minuncio Felix(200 d.C.): "Nas representaçoes teatrais a loucura nao e menor; uma vez, o ator narra ou representa adulterios, outras, um comediante afeminado incita ao amor enquanto o representa...."
     Lactancio(304-313 d.C.): "A mim me parece que as influencias depravadoras do teatro sao ate piores[do que as arenas].....que estarao aprendendo nossos jovens quando veem que ninguem tem vergonha de tais coisas, senao que todos as olham com gosto?"
     Os "Pais da Igreja" so confirmaram o que advertiram os servos de Deus, atraves dos seculos:
     1) O Salmista Davi: "Nao porei coisa ma diante dos meus olhos..."(Salmos 101:3).
     2) Profeta Isaias(713 a.C.): "....O que tapa os seus ouvidos para nao ouvir falar de sangue e fecha os seus olhos para nao ver o mal. Este habitara nas alturas...."(Isaias 33:15-16).
     3) O Salmista: "Desvia os meus olhos de comtemplarem a vaidade e vivifica-me no teu caminho".(Salmos 119:37).
     4) Jesus Cristo: " E dizia: o que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coraçao dos homens saem os maus pensamentos, os adulterios, as prostituiçoes, os homicidios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissoluçao, a inveja, a blasfemia, a soberba, a loucura.".(Marcos 7:20-21).
                                   
                                  Bibliografia.
                                  Cesar e Cristo-A historia da civilizaçao III-2ª ediçao-1971- De Freitas Souza.
                                  Dicionario da mitologia grega e romana-3ª ediçao-1990- De Mario Gama
                                  A Historia da civilizaçao II- Nossa herança classica- De Will Durant-1939
                                  Dicionario da Igreja Primitiva-online
                                  Ta-Hiera-cronologia resumida da perseguiçao crista-2009-online
                                   Teatro romano-wickipedia, a enciclopedia livre-online


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