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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

ESPORTE E EXALTAÇAO AO SER HUMANO- I PARTE.

     Nas sociedades greco-romanas da antiguidade, os jogos de exercícios eram tão importantes que praticamente toda a vida da época girava a sua volta.
     Em 390 d.C., o Bispo Gregório de Nizianzo denunciou a vaidade dos atletas que perdiam tempo e dinheiro no esporte-espetáculo. Em 393 d.C., o Bispo Ambrósio de Milão, influenciou o Imperador Teodósio I, a extinguir a pratica dos jogos de exercícios em todas as províncias subjugadas pelo Império Romano, para dar lugar ao culto e exaltação a Jesus Cristo, através do cristianismo. A partir do ano 400 d.C., devido a esta proibição, o esporte deixou de integrar a educação e o lazer dos alunos gregos.
     Na Idade Media, ainda resistia o jogo da bola originário do harpastum praticado pelo povo bárbaro bretões(ancestrais dos ingleses), sendo resquício do paganismo. O rei James I da Inglaterra, em 1617, publicou um decreto no qual revogava todas as proibições existentes contra os jogos de exercícios. O edito chamava-se "Declaration of Sports"(Declaração sobre os Esportes). Pela primeira vez um monarca passou a defender  os jogos.  A  palavra inglesa "Sport" surgia, por falta de qualquer outra, em todas as línguas, para significar competição pacifica entre indivíduos ou grupos no campo do adestramento fisico. Passou a ser "sport"(esporte) em varias outras línguas. Assim, substituiu, no sentido amplo, o termo "jogo"(latim "ludus" ou "jocus"), usados pelos gregos e romanos. Forma de não lembrar o vestígio da idolatria destes povos.
     Os povos do Egito, Índia, Mesopotâmia, Pérsia e China conheciam a pintura, escultura, literatura, musica e arquitetura, mas não conheciam o teatro e a filosofia. Essas manifestações nascem apenas com os gregos. Outro aspecto que se desenvolveu com os gregos foram os jogos de exercícios. Ate então, os exercícios executados pelo homem eram involuntários, em busca da caça para sobrevivencia.
     O lema do atletismo "mais rápido, mais alto e mais forte"("citius, altius e fortius") representado pela trilogia(conjunto de três coisas): correr, pular e arremessar), surgiu no ano 708 a.C.(18º olimpíada) entre jovens e soldados gregos, para desenvolver as habilidades físicas e criar competições esportivas.
     Os gregos iniciaram o culto do corpo e para eles, cada idade tinha sua própria beleza e a juventude  tinha a posse de um corpo capaz de resistir a todas as formas de competição, seja na pista de corridas ou na força física(luta corporal). A estética, o físico e o intelecto faziam parte de sua beleza de perfeição, sendo que um belo corpo era tao importante quanto uma mente brilhante. Sob a rubrica do atletismo, encontramos a verdadeira religião dos gregos: o culto da saúde, da beleza e da força. Os gregos dedicavam-se aos jogos e seus atletas prediletos equivaliam a deuses terrenos.
     Por mais de 40 anos, a participaçao nos jogos olímpicos foi restrito a atletas da região de Pisa e Elida, próximos a Olímpia. Só entre os anos 732 a.C. ate 696 a.C., a lista dos vitoriosos passou a incluir cidadãos de Esparta e Atenas. E, a partir do seculo VI a.C., os torneios passaram a receber inscrições de qualquer homem que falasse grego, fosse ele da Itália, do Egito ou da Asia. Vencer significava  tudo para os gregos antigos. Segundo Nigel Spivey, arqueólogo britânico, participar das competições como aqueles não era, de fato, apenas disputar, mas os atletas dirigiam-se para as Olimpíadas antigas com o interesse de ganhar e ser reconhecidos como "os melhores". Não havia prêmios para o segundo e terceiro lugares nos jogos olimpicos. O poeta lirico grego Píndaro(518-438 a.C.) relata que os perdedores(quer seja de Corinto,Atenas, Messênia, Esparta, Elida, Pisa, Arcádia, Teba, etc), voltavam para suas cidades de origem, arrasados e desonrados: "Eles escapavam pelos becos e vielas, separada e disfarçadamente, feridos por seu fracasso".  Competir, vencer, ser aplaudido e tornar-se famoso  para continuar vivo na memoria da comunidade, eram componentes essenciais da visão do mundo grego. As disputas permitiam-lhe, portanto, demonstrar a excelência de suas qualidades físicas e intelectuais.
     Ao longo dos anos, diversas cidades-Estados passaram a realizarem suas próprias disputas, que também carregavam uma força religiosa. Em 582 a.C., inauguraram-se outros jogos pan-helênicos: os Delfos, em honra de Apolo; os ístmicos de Corinto, em honra a Posseidon. Em 576 a.C., criaram-se também os de Nemeia, em honra a Hércules. E Olímpia teve que dividir o monopólio dos esportes. Passou a formar um "período" quadrienal. Assim como hoje os ciclistas tem por maior meta vencer, no mesmo ano, "A Volta da Itália" e o "Tour de France", da mesma forma os atletas de então almejavam o título de campeões nas 4 disputas do período. Como forma de homenagear a deusa Atena, foram instituídas os "Jogos Panatenaicos" em Atenas, em 566 a.C., ofuscados por outros torneios.  Em Esparta, foram criados em 676 a.C., os "Jogos Carneios"(divertimentos pertencentes a carne) em honra ao deus Carneios. Nos jogos píticos, panatenaicos, ístmicos e nemesianos, alem das provas físicas, haviam também concursos  de canto, harpa, lira, flauta, danças e declamações, principalmente, das obras do poeta Homero(880-800 a.C.).
     Qualquer modalidade pode ser transformada em esportes, desde o momento em que se tente demonstrar "quem e o melhor dentre os competidores", ou "entre uma equipe". Os esportes exaltam o ser humano ou um grupo. A natação em si e a arte de salvar a própria vida ou a dos outros. Transforma-se em esporte, quando indivíduos competem entre si, mostrando quem e o melhor, mais rápido, atraindo para si dinheiro, fama e reconhecimento humano. Da mesma forma, a caça com arco e flecha passa a ser esporte, quando deixa de ser necessidade. E o abandono do ato da sobrevivência, para aclamação do melhor arqueiro.
     Tudo o que faz a gloria e a vergonha do esporte no seculo XXI já existia na Grécia antiga: treinamento intensivo, dietas, transferência de clubes, profissionalismo, semiprofissionalismo, amadorismo,etc..
     O dinheiro, claro, também estava presente. Desde que os jogos olímpicos passaram a ser organizados oficialmente, os atletas foram remunerados. Quando se tornavam disputas entre cidades, nas quais o prestigio nacional ou local era questão de honra, as autoridades passaram a patrocinar seus representantes. Mantinham colégios de atletas e quando não conseguiam formar nenhum campeão, compravam um no estrangeiro.
     Em Atenas, em 580 a.C., Sólon, promulgou uma lei que estipulava um premio de 500 dracmas para cada cidadão que vencesse as Olimpíadas. Como um carneiro valia aproximadamente uma dracma, essa quantia era consideravel. Sem contar que os campeões adquiriam honra e privilegio, como a dispensa de pagar impostos. Algumas cidades faziam-nos generais e eram por tal forma idolatrados pelas multidões, levando os filósofos  se queixarem por ciumes. Poetas, como Simonides(556-467 a.C.) e Píndaro(518-438 a.C.) eram contratados para escreverem versos em seu louvor, a serem cantados por coros de meninos na procissão com que a cidade natal os recebiam. Escultores eram pagos para perpetuar nas estatuas de bronze e pedra, suas figuras. Eram os "divinizados".
     Inicialmente, reinava uma concorrência entre atletas amadores desinteressados. Com o tempo, a ambição das cidades fez com que as autoridades passassem a exigir a vitoria de seus competidores. Os esportistas começaram então a treinar em tempo integral e a se especializar em uma modalidade para aumentar suas chances de sucesso.
     Os atletas se vendiam a quem pagasse mais. O cretense Sotades, que venceu a corrida de daulichos(4700 metros) nos 99º jogos olímpicos(384 a.C.), aceitou correr pela cidade de Éfeso 4 anos mais tarde. Os cretenses o puniram e o exilaram. O competidor Astilo de Crotona, cidade habituada a conquistar a maior parte dos prêmios olímpicos, ganhou, em 488 a.C., a corrida do estadio(cerca de 200 metros) e o diaulos(prova de 400 metros) e se apresentou nos jogos seguintes como cidadão de Siracusa. Assim, em 388 a,C., durante a 98ª olimpíada, constatou-se o primeiro caso de corrupção: o pugilista Eupolos comprou 3 adversários, entre os quais o detentor do título. O Senado de Olímpia impôs uma multa aos 4 homens e, com  a quantia obtida, mandou construir  6 estatuas de bronze de Zeus, que foram colocadas no bosque sagrado de Altis. Em 322 a.C., um atleta ateniense, Calipo, também subornou os adversários. Como se recusaram a pagar a multa, todos os atenienses foram expulsos dos jogos.
     Relato sobre alguns atletas vitoriosos nos jogos:
     No ano 776 a.C., Coerebus, cozinheiro e atleta competiu com outros 6 atletas e venceu a corrida do estadio, em Olímpia e diz Pausanias(seculo II a.C.), historiador grego, que "os parentes, amigos e admiradores erigiram-lhe uma estatua de pedra, das primeiras que deste material se fizera na Grécia, pois ate então só se esculpiam a figura dos deuses e esta em madeira.
     Daikles, de Messênia, foi o primeiro atleta a receber, como recompensa pela sua vitoria, na corrida do estadio, uma coroa de oliveira, na 7ª olimpíada, em 752 a.C.
     Milon, de Crotona, era um lutador invencível e um dos maiores atletas da Grécia Antiga, alcançando varias vitorias nos Grandes Jogos. Possuidor de força descomunal, transportou sua própria estatua, colocando-a no recinto sagrado de Olímpia. Dos anos 532 a.C. a 516 a.C., venceu por  5 vezes em Olímpia, 5 vezes nos jogos piticos, 9 vezes  nos jogos ístmicos e 9 vezes nos jogos nemesianos. Em 512 a.C.(67ª olimpíada) competiu pela ultima vez em Olimpia, num confronto decisivo. O seu adversário, Timasiteos, soube esquivar-se com grande destreza ao ataque de Milon e com isto cansou o campeão olímpico, levando-o a desistir da luta, findando o seu ciclo de competições com 45 anos de idade. Milo era um pugilista adorado pelos gregos. Desenvolvera a sua força, ao que se diz, carregando diariamente um novilho ate que se tornasse em touro. O povo gostava de seus truques: sabia segurar com tanta força na Mao uma roma que ninguém conseguia arranca-la e a fruta não se amassava; de pé num disco untado de óleo, resistia a todos os esforços feitos para desaloja-lo; amarrava em redor da cabeça uma corda e arrebentava-a com o prender da respiração e forçar o sangue a inflar as veias. Acabou destruído pela própria auto-confiança. O historiador Pausanias, relata que Milon encontrou casualmente uma arvore morta, cujo tronco alguem tentara abrir com auxilio de alavancas que ainda estavam la. O pugilista cismou de abri-la com as mãos. As alavancas soltaram-se e o atleta ficou preso e foi devorado pelos lobos.
     Nicandro, da Elida, 6 vezes foi o vencedor do "diaulo" nos jogos nemesianos. Xenofonte, de Corinto, foi o vencedor da corrida do estadio e do pentatlo, nos 79ª olimpíada(464 a.C.), feito que ninguém conseguiu antes. Foi exaltado por Píndaro, na sua XXII Olimpica, que ele disse: "O que jamais mortal algum conseguiu". Politis, de Ceremo e Hermógenes, de Xanto, vencedores da corrida do estadio, do diaulo e do dólico, nas 212ª olimpíada(69 d.C.) e 215ª olimpíada(81 d.C.) respectivamente. Astilo, de Crotona,, grande corredor, ganhou a corrida do estadio e o duplo-estadio nas 73ª olimpíada(488 a.C.) e 74ª olimpíada(484 a.C.); na 75ª olimpíadas(480 a.C.) ganhou as 3 corridas do programa e na 76ª olimpíada, em 476 a.C., ganhou a corrida armada.
     Ergatoles, de Cnossos(Creta), extraordinario corredor, triunfou em todos os Grandes Jogos. Píndaro dedicou-lhe a XII Olímpica. Diagoras, de Rodes, venceu 2 vezes em Olímpia e Nemeia, 4 vezes no istmico de Corinto, 2 vezes  nos jogos de Rodes e 8 vezes em outras cidades. Mosco, de Colofon, foi o único menino vencedor em todos os Grandes Jogos.  Clitemaco, de Tebas, triunfou no Pancrácio de Olímpia e foi 3 vezes vencedor nos jogos píticos, assim como nos jogos ístmicos(luta, pugilato e Pancrácio). Filinos, de Cos, venceu em 24 ocasiões os 4 principais jogos gregos. Ladas, grande corredor espartano, sucumbiu depois de sua grande vitoria na corrida de fundo da 135ª olimpíada(240 a.C.). Seu monumento em Olimpia era obra do escultor Miron. Arreque, de Figalia, pancracista, faleceu por estrangulamento na 54ª olimpíada, em 564 a.C., apos a sua 3ª vitoria em 3 olimpiadas sucessivas.

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