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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

ESPORTE E EXALTAÇAO AO SER HUMANO- II PARTE.

     No pugilismo(boxe), a luta mais violenta, a peleja so terminava quando um lutador perdia a consciencia, desistia ou morria.. Um dos maiores mitos da antiguidade chamava-se Teogenes, da ilha de Thasos. Venceu nas provas de luta, pancracio e pugilato na 78ª olimpiada(468 a.C.) e triunfou, tambem no pugilato da 75ª olimpiada(480 a.C.), no pancracio da 76ª olimpiada(476 a.C.) e na luta da 77ª olimpiada(472 a.C.). Foi coroado varias vezes nos jogos instmicos de Corinto, nos jogos piticos em Delfos e nos jogos nemesianos, em Nemeia. Quando morreu, o povo de Thasos construiu uma estatua em sua homenagem, como era de costume fazer com os grandes campeoes. Outro pugilista da cidade resolveu se vingar dos inumeros socos que recebeu de Teogenes, em vida, e ia toda a noite bater na estatua. Ate que, um dia, ela se soltou e caiu sobre ele, matando-o. Os filhos do rival vingativo,  derrotado ate mesmo pela memoria de Teogenes, processaram a estatua por assassinato. Isso soa estranho hoje, mas fazia sentido pela lei grega. A peça foi condenada e, como sentença, jogada ao mar. So foi recuperada anos depois, quando uma praga assolou a ilha e adivinhos, atraves de um oraculo, aconselharam os nativos a resgatarem do mar a estatua de bronze do boxeador olimpico.
     Mais impressionante foi a proeza de Arrichion. Este pugilista lutava pancracio, luta cuja unica regra era nao morder o adversario e nem enfiar o dedo no olho ou em qualquer orificio do seu corpo. As irregularidades eram punidas pelo juiz com chicotadas. Fora isso, tudo era permitido: chutes, golpes baixos,  puxoes de cabelo. Arrichion tinha vencido o pancracio uma vez, mas estava se saindo mal naquela final. Seu adversario apanhou-o  em uma tesoura com as pernas e espremeu-o. O ex-campeao ficou sem folego, mas conseguiu segurar o pe do oponente e quebrar-lhe o tornozelo. O rival desistiu na hora, entregando a vitoria. Para Arrichin, no entanto, era tarde demais: roxo pela falta de ar, caiu morto naquele mesmo momento. Foi coroado mesmo depois de morto.
     Leonidas, de Rodes, foi outro atleta de destaque. Venceu as 3 corridas olimpicas(estadio, diaullos e doricos), em 4 olimpiadas seguidas, de 164 a 152 a.C.: "E um feito simplesmente fantastico", diz Judith Swaddling, pesquisadora da Grecia Antiga do Museu Britanico, em Londres. Um "estadio" correspondia a quase 200 metros, que era a extensao do estadio. No diaullos, o atleta tinha que ir ate o final do estadio, contornar um poste e voltar. E o dorico consistia em 24 estadios. Ou seja, vencer as 3 seria como ganhar as provas de 200, 400 e 5000 metros numa olimpiada moderna, algo que beira o impossivel. Ainda mais, porque todas as corridas aconteciam no mesmo dia. E Leonidas fez isso quatro(4) vezes. No total destes anos, ele obteve 12 vitorias.
     Quiones, de Esparta, vencedor da corrida de velocidade(estadio e diaullo), nas 29ª olimpiada(664 a.C.), 30ª olimpiada(660 a.C.) e 31ª olimpiada(656 a.C.). Agesias, de Siracusa, vencedor com carros de mulas e cantado por Pindaro na VI Olimpica.
     O politico e general ateniense Alcibiades(450-404 a.C.), amigo e entusiasta de Socrates, participou da corrida no hipodromo, em 416 a.C., com 7 bigas. Segundo o historiador Tucidides(460-400 a.C.), conquistou o 1º, 2º e 4º lugares. O orador Joao Crisostomo(347-407 d.C.), Patriarca de Constantinopla, registrou em dois(2) de seus discursos, o nome do maior pugilista do I seculo da Era Crista: Melancomas, morador de Caria-localizada na costa da Asia Menor.
     A prova mais popular em Olimpia era a corrida de charretes, que, como o pugilismo, fazia muitas vitimas. Os cavaleiros pilotavam dois ou quatro cavalos, venciam a pista do hipodromo, contornavam um poste e voltavam. Apesar do perigo de colisao, eles nao concorriam a gloria olimpica e sim os donos dos cavalos ganhavam as coroas de louro. Tanto que uma egua de Corinto, chamada Aura, ganhou a prova mesmo depois  do seu cavaleiro cair. Uma vez, Alkibiades, um ateniense rico, pegou o 1º, 2º e 3º lugares. Ele nunca subiu numa charrete. Essas provas combinavam velocidade, risco e emoçao. Outra semelhança e que as charretes, assim como os cavalos eram otimos para propaganda. Os governos de Atenas e da Silicia investiam pesado no esporte. E que eram regioes de criaçao de cavalos e uma coroa olimpica faria uma bela propaganda  para possiveis compradores. Muitos cavaleiros gregos eram tambem soldados e colheram muitas glorias no hipodromo quanto nos campos de batalha.
     Havia tambem torneios para escolher o melhor corneteiro que ganhava, alem da coroa de folhas de oliveira, a honra de anunciar os outros vencedores. Aqui tambem os soldados se davam bem. Exemplo disso foi o super-campeao Herodoros de Megara, uma cidade proxima de Atenas. Dez(10) vezes campeao em Olimpia, ele participou com sua corneta do ataque a cidade de Argos. Tocou tao bem e tao alto e inspirou os soldados de tal forma, que foi responsablizado pela vitoria.
     Diante do desenvolvimento do profissionalismo, as escolas de esporte e ginasio multiplicaram-se nas metropoles. Os professores de educaçao fisica(pedotribos) recrutavam garotos a partir dos 12 anos. Esses treinadores particulares, as vezes ex-atletas, eram cada vez mais bem remunerados. Dessa forma, os treinadores cobravam 100 dracmas por aula.
     Na primeira metade do seculo IV a.C., o vencedor da corrida do estadio recebia 50 anforas de azeite(que valiam aproximadamente  12500,00; o vencedor do pugilato(ancestral do boxe) ou no pancracio(combinaçao de luta com o pugilismo) ganhava 30 anforas(RS 7500,00); o vencedor do pentatlo(200 metros, 1500 metros, salto em distancia, lançamento de disco e dardo), 40 anforas(RS10 mil); e o vencedor da corrida de bigas, trigas ou quadrigas, 140 anforas(35 mil).
     Quem nao  viajava e ficava em Roma, tinha de satisfazer com os divertimentos locais, abundantes e baratos: competiçoes atleticas, hipismos, corridas de bigas, trigas e quadrigas;  combates mortais entre homens(luta de gladiadores), combates de homens com feras, batalhas navais simuladas em lagos artificiais. Nunca existiu cidade tao repleta de diversoes. No começo do Imperio Romano(27 a.C.), havia um calendario com 77 dias de jogos(ludi). Destes, 55 dias eram 'Ludi Sceni '(jogos cenicos), com peças e pantominas; 22 dias, com jogos do Circo, no estadio ou no Anfiteatro. Ja o Imperador Marco Aurelio(161-180 d.C.) estendeu para 133 dias do ano. O numero de jogos foi crescendo ate 354 d.C., quando ja alcançavam 175 dias do ano. A partir do Imperador Otavio Augusto(63 a.C.-14 d.C.), a paixao pelos Circos(hipodromos) cresceu de maneira assustadora. Em seu reinado, contavam-se ao todo 21 Circos de pedras em toda a Italia. Em meados do I seculo da Era Crista, o numero de Circos subiu para 50 e em fins daquele seculo ja atingira o numero 64.
     O grande crescimento que experimentou a cidade de Roma desde suas origens, no seculo VI a.C. , fica demonstrado no seculo III d.C.: 1) Circo Maximo- Seculo IV a.C.-Utilizado para corridas de cavalos e competiçoes de carruagens(bigas); 2) Anfiteatro Flaviano(Coliseu)- Ano 80 d.C. Utilizado para combates de gladiadores. Capacidade para 70 mil espectadores. 3) Estadio de Domiciano- Fins do seculo I d.C.(81-96 d.C.)- Utilizado para competiçoes atleticas, de origem grega(corridas, lutas, salto a distancia, lançamento do dardo e disco).
     Quando os gregos perderam a sua liberdade, devido a conquista romana, incontaveis foram os jogos dedicados aos Imperadores romanos que, muitas das vezes, a eles protegeram e incentivaram. Tiberio, Caligula Germanico e Nero, participaram da corrida de bigas, sendo coroados em Olimpia. Comodo(180-192 d.C.) e Caligua(37-41 d.C.) participaram de combates "arranjados", onde os gladiadores tomavam o cuidado para nao machucarem os imperadores.
     Nos tempos de Otavio Augusto, certos magnatas mantinham suas proprias escolas proprias, para transformar escravos em gladiadores. Havia muito rigor e disciplina nos treinos; regime alimentar fiscalizado por medicos, os quais prescreviam a cevada para o desenvolvimento dos musculos. Punia-se a violaçao das regras com flagelaçao(chicotadas), marca a fogo e acorrentamento. A gloria em caso de vitoria falava mais alto na vida dos atletas. Os homens livres eram muito procurados para serem gladiadores, por causa do seu entusiasmo durante os combates. O gladiador mais famoso foi um homem livre. Publio Ostorio que fez 51 combates em Pompeia(sul da Italia). Eles se tornavam gladiadores, pois com suas vitorias, conseguiam riquezas que um trabalhador comum nao conseguiria durante toda a sua vida. A fama e a admiraçao feminina eram outros componentes que contavam a favor deste estilo de vida.
     Os aurigas(condutores de bigas), pelo risco de vida que estavam sujeitos nas corridas, eram bem remunerados e gozavam de grande admiraçao por parte da populaçao romana, sedentos pelo prazer e emoçao, tal como hoje, com os fas do futebol e automobilismo. Haviam torcedores e apostadores que, naturalmente, se juntavam em grupos, durante as corridas de bigas,trigas e quadrigas. Eram bem treinados e podiam alcançar grande fama e fortuna com uma carreira bem-sucedida. Um certo Gaius Apuleis ganhou quase 36 milhoes de sestercios em 24 anos de carreira. Os premios as vezes, incluiam casas ou fazendas.
     Os cavalos eram comprados na Italia, Grecia, Africa e Espanha, sendo ensinados por 3 anos e apresentados nas corridas por 5 anos. Eram eguas ou puro-sangue e cada um possuia seu pedegree. Alguns se tornaram famosos e adorados pelo povo e pelos imperadores. Os condutores eram de origem simples, na maior parte escravos que tendo vencido com frequencia, poderiam comprar a sua liberdade. Ganhavam verdadeiras fortunas, alem dos presentes dos magistrados e dos salarios exorbitantes que exigiam dos contratantes para nao abandonarem as cores, ou seja, quem corria pelo "azul" nao trocaria por um outro grupo(dos vermelhos, brancos ou verdes). Entre o povo as extravagancias dos condutores nao eram questionadas, e sim elogiadas.  Assim como os gladiadores, os joqueis eram submetidos a treinamentos rigorosos e muitos deles morreram milionarios, devido as corridas. As pessoas apostavam em condutores preferidos. Os ricos apostavam fortunas e os pobres aquilo que tinham. Com o resultado da corrida, uns ficavam mais ricos e outros mais pobres.A vitoria de um cocheiro de quadrigas assumia proporçao de vitoria nacional e para os vencidos, de catastrofe publica. Cremos que o publico esportivo nao basta para explicar estas paixoes. No Imperio Romano, estavam representadas 4 facçoes: os brancos, os azuis, os verdes e os vermelhos. O publico favorecia uma ou outra, e nao, como acontecia se tratasse-se de uma simples atraçao esportiva, este ou aquele cocheiro. Estas facçoes permaneciam, mesmo,quando mudavam os condutores,encarregadas de fazer triunfar a sua cor. Eram sempre os mesmos apoiantes que aplaudiam cada "cor" e fora adotada por uma classe social, que a tomara como simbolo e se identificava com ela. Assim, verificava-se que Caligula, Nero, Domiciano, Lucio Vero, Comodo e Heliogabalo, imperadores que foram mais "democraticos", torciam para os "Verdes". O que implica evidentemente, que a massa popular estava empenhada em torcer pela facçao "Verde". O Senado, pelo contrario, e a aristocracia tradicionalista  torciam para a facçao dos "Azuis" e e sabido que o imperador Vitelio puniu com a morte partidarios dos "Verdes" por terem "falado mau dos Azuis". Sob a aparencia de uma simples competiçao esportiva, estavam em jogo interesses muito mais graves: "os deuses nao atribuiam a vitoria aquem eles bem entendiam? E esta vitoria nao era a prova de que os deuses tinham querido favorecer, alem dos cocheiros e das parelhas(cavalos), mas todos aqueles que se tinham voluntariamente identificado com eles e lhes tinham confiado a sua sorte?"
     Caligula era partidario do grupo "Verde" nas corridas de bigas ou quadrigas, que presenteou um dos vencedores com 2 milhoes de sestercios(antiga moeda romana de cobre).
     Nem todos os candidatos a morte odiavam este destino. Alguns exultavam com as vitorias e pensavam mais nos atos heroicos do que nos perigos que os aguardavam; outros queixavam-se de nao poderem participarem sempre nas lutas; muitos odiaram o Imperador Tiberio(14-37 d.C.), dos tempos de Jesus Cristo(Lucas 3:1), por ter promovido poucos jogos no anfiteatro. Para os competidores, havia o estimulo e a consolaçao da fama e reconhecimento, ao verem os seus nomes louvados pelos admiradores e escrito nas paredes; poetas cantavam-nos em poemas; pintores faziam-lhe retratos e escultores reproduziam-nos em pedra.
     

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