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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O JOGO DA BOLA

     Este tipo de jogo originou-se da veneraçao por parte das naçoes ao sol e a lua.
     Os fenicios adoravam o sol, sob a invocaçao de Baal; os assirios, sob o nome de Assur; os babilonios, sob o nome de Bel; os egipcios, sob a designaçao de Amon-Ra; os gregos, como Apolo Olimpico.
     Estes astros eram cultuados sob a forma humana, sendo para isso constituida em cada naçao, imagens de escultura, onde os homens pudessem fixar os seus olhos e depositavam a fe em obras feitas por maos humanas: "Os idolos deles sao prata e ouro, obra das maos dos homens".(Salmos 115:4) e Salmos 135:15
     Baal era o deus-sol, segundo os idolatras, responsavel pela germinaçao e crescimento da lavoura, pelo aumento dos rebamhos e fecundidade das familias. Em tempos de seca e peste, sacrificavam-lhe vitimas humanas, para apaziguar sua suposta ira. Isso ocorria entre os fenicios e os assirios. Nesses holocaustos, a familia geralmente oferecia o primogenito. A vitima era queimada viva. Os cultos nao exigiam santidade e o povo deixava-se seduzir pela imoralidade(adulterio, fornicaçao, homossexualismo). Criaram-se os jogos de bola(reconstituindo o sol em forma de uma esfera) e outros jogos para homenagear este idolo(deus). O jogo ritual da bola foi o reponsavel pela criaçao de outros esportes no campo religioso. Os cultores do paganismo diziam que serviam para afugentar os maus espiritos.
     No seculo XIX, o arqueologo ingles Rawlenson, juntamente com os historiadores franceses Champollian Botta, descobriram nas regioes do vale do rio Nilo, retrataçoes das antigas disputas esportivas realizadas ha 4000 anos a.C. Os egipcios as realizavam em adoraçao aos deuses: Osiris, Isis(deusa da fertilidade), Set, Boi Apis, Pta(deus supremo), Amon-Ra(deus-sol), possuindo sacerdotes na cidade de Heliopolis: antiga e famosa metropole do Baixo-Egito, situada ao oriente do Nilo, no delta e 35 km ao norte de Menfis- sendo o principal centro de adoraçao ao sol: "E quebraras as estatuas  de Bete-Semes(casa do sol), que esta na terra do Egito e as casas dos deuses do Egito queimaras a fogo".(Jeremias 43:13)
     Os achados arqueologicos permitem afirmar que o jogo de bola, praticado com os pes, exercido no Egito e na Babilonia(ha mais de 3000 a.C.) tinha carater religioso: a bola, simbolizando o sol(para os egipcios), a lua(deusa 'Sin')- para os babilonios, ou ainda os maus espiritos que os jovens, em certas festividades, procuravam afugentar golpeando com os pes uma bexiga de boi.
     O Senhor, atraves de seus profetas, deixou bem claro aos hebreus do perigo da veneraçao dos corpos celestes: "E nao levantes os teus olhos aos ceus e vejas o sol, a lua, as estrelas, todo o exercito dos ceus e sejas impelido a que te inclines perante eles e sirvas aqueles que o Senhor teu Deus repartiu a todos os povos debaixo dos ceus".(Deuteronomio 4:19).
     "Algum homem ou mulher...que for e servir a outros deuses e se encurvar a eles, ou ao sol, alua ou todo o exercito do ceu que eu nao ordenei".(Deuteronomio 17:2-3).
     "Tambem destituiu os sacerdotes que os reis de Juda estabelecera para incensarem sobre os altos  nas cidades de Juda e ao redor de Jerusalem, como tambem os que incensarem a Baal, ao sol, a lua e aos mais planetas e a todo o exercito dos ceus...tambem tirou os cavalos que os reis de Juda tinham destinado ao sol, a entrada da casa do Senhor.... e os carros do sol queimou a fogo".(II Reis 23:5 e 11).
     Os hebreus receberam instruçoes, dadas por Deus, contra as praticas idolatras, inclusive o culto do sol e dos astros. Nesses cultos, o povo olhando para o sol no seu luzimento atirava-lhe beijos com a mao, beijando suas estatuas e ainda ofereciam-lhe praticas esportivas em sua homenagem. No ano 1520 a.C., Jo justificando-se perante Deus, citou este pecado exercido pelos povos e que se porventura, ele tivesse praticado, teria negado o Criador de todas as coisas: " Se olhei para o sol, quando resplandecia ou para lua, caminhando gloriosa e o meu coraçao se deixou enganar em oculto e a minha boca beijou a minha mao, tambem isto seria delito pertencente ao juiz; pois assim negaria a Deus que esta em cima".(Jo 31:26-28).
     No ano 600 a.C., Deus atraves do profeta Jeremias, faz uma alerta ao seu povo para nao copiarem os costumes das naçoes politeistas, pois eram caminhos vaos(inuteis). E lembrado que estes povos eram astronomos, verificando a movimentaçao dos corpos celestes(astros): "Assim diz o Senhor: nao aprendais o caminho das naçoes, nem vos espanteis com os sinais dos ceus; porque com eles se atemorizam as naçoes. Porque os costumes dos povos sao vaidade: pois cortam do bosque um madeiro, obra das maos do artifice, com machado".(Jeremias 10:1-3).
     Os mesopotamios, assim como as demais naçoes, eram astronomos: observavam a constituiçao e movimentaçao dos corpos celestes. Deram nome a cinco(5) planetas, fizeram previsoes de eclipses.
     Na Grecia antiga, os grandes incentivadores dos esportes foram: Alexandre, o Grande(356-323 a.C.), Sofocles(496-406 a.C.), Homero(850-800 a.C.) e Timocrates da Lacedemonia(Esparta). Um dos livros mais antigos sobre jogos com bola e de autoria de Homero e Timocrates. Os jogos que tiveram grande impulso foram: o feninda, o harpastum(dos romanos), o epyskiros(dos gregos)- semelhante ao rugby e o piceno. A esferistica era a denominaçao usual dos jogos com bola praticada pelos adolescentes.
     A maioria dos esportes modernos sao praticados com bola. Tal fato tem levado varios pesquisadores, entre os quais o holandes F.J.J. Buytendijk, o ingles R.W. Picford e o alemao H.G. Hartgenbusch, a estudarem a preferencia que o homem manifesta pelos jogos com bola. Ressalta o holandes Butendijk que essa preferencia se fundamenta, primeiro, no fato de ser a esfera um corpo de forma simples e perfeita, de superficie igual a qualquer ponto, "sem nenhuma resistencia ou supresa que todos se sentem impelidos a segurar, atirar, bater, tocar com o pe; alem da esfera, como circulo, teria um sentido magico, religioso, para os antigos povos, sendo uma especie de simbolo de divindades como o sol e a lua. Esse sentido sagrado, segundo o pisicologo holandes explicaria em parte, a atraçao que a bola exerce sobre o homem, desde as mais primitivas civilizaçoes.
     O harpastum foi um jogo de bola muito popular em Roma(praticado por volta do ano 200 a.C.). Era disputado num campo retangular, dividido por uma linha e com duas linhas como meta. Era um exercicio militar e durava horas. Era praticado tambem no Anfiteatro de Pompeia(sul da Italia), ate o ano 79 d.C. O general Julio Cesar(100-44 a.C.) e o general estadista romano, Marco Porcio Catao(234-149 a. C.), governador da Sardenha e embaixador em Cartago(Africa) prestigiaram muito estes jogos. Haviam tambem outros: "o eudere espulsim"(tipo de voleibol), "o ludero dodatim"(basquetebol sem cestas ou um primitivo rugby).
     A civilizaçao Maia, povo indigena habitante da America Central(terras baixas da Guatemala) e parte do Mexico(Yucatan), surgida ha 3000 a.C., juntamente com os toltecas(indigenas mexicanos do sec.X e XIII), executaram admiraveis obras de arquitetura. Encontra-se o Caracol, estranha construçao formada por duas grandes plataformas quadradas e uma torre cilindrica. O nome Caracol deriva-se de uma escadaria em espiral encontrada no interior da torre. Essa torre teria servido provavelmente como observatorio astronomico e o culto dos astros.
     A cidade de Tikal foi construida repleta de fabulosos palacios, praças e anexo aos templos. Havia o campo onde era praticado o 'jogo da pelota', nas cidades de Palanque, Pedras Negras, Copan, Quiringua, Naranja e Coba. Essa atividade cerimonial consistia em jogar uma bola de latex por meio de quadris ou dos pes, sem toca-los com as maos. A dificuldade estava em fazer passar a bola por dentro dos aneis. O ritual era oferecido as divindades. Os campos  de 'jogo da pelota', como eram chamados, tinham a planta em forma de "T"(t). Os espectadores assistiam as partidas sobre muros perimetrais, alcançados por amplas escadas. Toda cidade tinha seu campo de jogo da bola. Mas um dos melhores exemplos desses "estadios" da arquitetura maia-tolteca e o Chichen-Itza. Foram encontrados ate agora 45 campos de jogo de bola.
     Os astecas, indigenas antigos herdeiros das grandes civilizaçoes antecessoras, como os Olmecas(1150 a.C.) e Toltecas(856 d.C.), se entregavam com paixao, da mesma forma que os Maias e os toltecas, ao jogo de bola denominado "tlachtli"(simbolizando o universo ou cosmo). No que se refere as regras do jogo, apenas sabemos que a bola de borracha pesada, solida, mas altamente elastica, nao podia ser tocada com as maos nem com os pes, mas lançada unicamente com as nadegas, os quadris e os cotovelos. Usavam ainda mascaras simbolizando os deuses da luz e das trevas.
     O jogo era aberto por um sacerdote que lançava a bola no campo. Os jogadores de um lado tentavam passar a bola por um dos aneis de pedra, tao logo a bola tocasse o chao, era da equipe do outro lado. Devia ter sido incrivel a agilidade dos jogadores no seu esforço de manter a bola constantemente no ar. Da mesma maneira era dificilimo conseguir o objetivo do jogo: passar a bola pelo anel de pedra, situado numa altura de 6 metros, façanha que exigia extrema destreza e aptidao. Segundo variavam os simbolos e mitos praticados sem conta, a bola representava o sol, a lua ou as estrelas que aparecem no firmamento depois de passar por uma pequena abertura no horizonte, simbolizado pelo anel de pedra. E nesse firmamento, o ceu diurno e noturno, era representado pelo campo do jogo da bola. O jogo tinha, portanto, um sentido cerimonial aos deuses.
     O primeiro lance acertado no anel de pedra decidia o jogo. Em seguida, o capitao do time tinha sua cabeça decepada; era isto uma grande honra para o sacrificado, pois fora eleito pelas divindades e chegara a igualar-se aos deuses. Em tempos remotos, o sacrificio tinha lugar no centro do proprio campo de jogo da bola; posteriormente e conforme exercido pelos astecas, o ato fora transferido para o templo, onde, alem dos jogadores, eram sacrificados ainda outros eleitos para proporcionar-se sustento ao sol.
     Os Incas(4000 a.C.), Maias(3000 a.C.), Zapotecas(500 a.C.), toltecas(856 d.C.) e astecas(1345 d.C.) conheciam certas variaçoes no desenrolar do jogo que, no entanto, nao chegaram ao nosso conhecimento. Todas as variaçoes foram idealizadas com os simbolos do ceu e das passagens dos corpos celestes. Sua execuçao se dava em homenagem as divindades da luz e da fertilidade, a fim de implorar e garantir ao homem a graça divina, fonte e sustento da vida.
     Ha 2000 anos, um poema bem antigo composto por Liyu, poeta chines que viveu entre os anos 50 e 136 d.C., forma uma ponte espiritual sobre o abismo entre o jogo da bola com o simbolismo celeste e as diversoes do fim de semana:
                                "A BOLA IMORTAL"
     "A bola redonda e o campo quadrado,
     Semelhante as imagens da Terra e ceu
     A bola pairando sobre nos como a lua,
     Enquanto se defrontam duas equipes
     Escolhamse os capitaes do jogo, que mantem o campo
     Segundo regras imutaveis
     Sem favores para os parentes,
     Sem lugar para a parcialidade
     Tambem ha resoluçao firme e sangue-frio,
     Sem erro nem omissao
     E se tudo isto e necessario ao jogo de futebol,
     Mais necessario sera a luta pela vida?"
    

     Diz a tradiçao que os deuses do jogo da bola- "Flor do Vimeiro Primaveril", "Floresta do Repouso Estival" e "Jardim Outonal"-vieram ao Japao e trouxeram o jogo da bola, diante do santuario de Xindo, ao modo de ritual magico, implorando fertilidade.
     O "Kemari", significa "pontapear a bola"(ke-chutar; mari= bola). E uma variaçao do "tsu-chu"(chines) com origem no Japao. Ao contrario do esporte chines, as mulheres nao podiam participar do Kemari. Foi difundido pelos imperadores Engi e Tenrei e era proibido qualquer contato corporal. O campo(Kakari) era quadrado e cada lado havia uma arvore cerejeira(sakura), salguerio(yana-fi), borda(kaede) e pinheiro(matsu). Os jogadores(mariashi, de mari=bola e ashi=po) eram 8. Esse jogo datado de 2500 a.C., era mais ritual religioso do que propriamente um esporte, antes de se iniciar a partida, era realizada uma celebraçao para abençoar a "bola", que significava o sol e era criada artesanalmente com bambu.
     Na Indochina(atual Vietna), a cabeça de um bufalo sacrificado servia de bola e era lançada por cima dos corpos de chefes de tribos mortos e de escravos sacrificados. O sangue da cabeça do bufalo em voo salpicava a multidao em extase. Assim tambem nasce o sol: uma bola vermelha como sangue, com o qual jogam os deuses e que lançam por cima da lua assassinada no firmamento estrelado. David Levingstone(1813-1873), em uma expediçao a Africa Central, deparou-se com um grupo de carregadores indigenas agredindo repentinamente uma vitima inocente, matando-a e decapitando-a em ato ritual. Com  a cabeça, os africanos jogaram orgiacamente futebol horas a fio.
     Todos so povos e todas as raças procuraram na bola forças misteriosas. Sera que passamos dessa fase nesse nosso mundo moderno, na era do iluminismo, da razao pura, das ciencias, da internet e do progresso? O reinado da bola nao sofreu continuidade? A bola deixou de ser magica, mas ainda continua exercendo a sua magia. Aquilo que a bola conseguiu em todos os tempos e cantos da terra, ela o consegue igualmente nos dias atuais: provocar a histeria das massas, atraves do radio, da televisao e internet. O divino jogo da bola deixou de existir, todavia, existe o jogo dos homens, bem humano e com ele os homens torcem de corpo e alma. Quem sabe, se nesse entusiasmo pela bola nao se conservam alguns restos, ultimos vestigios daquelas crenças e vagas ideias mitologicas. A bola ainda continua cercada de muitos misterios. Por que os americanos jogam o basebol, os ingleses o seu criquete e na India o hockey e o esporte do povo? A que se deve atribuir a origem da imensa popularidade do futebol? Afinal, a bola brinca tanto com o homem, quanto o homem com a bola.


                                 Bibliografia
             Enciclopedia Mirador-1975-volumes 1 ao 20
             "Herois, deuses, super-homens-as grandes conquistas esportivas"- de Walter Umminger-1968
              "A civilizaçao Asteca"- de Jacques Soustelle-1970
              Enciclopedia do ensino integrado e supletivo-1973-volumes 2 e 5-de Mauro Soares Teixeira
              Biblia Sagrada
              Historia do futebol-wickipedia-online

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